Se você está planejando encarar o Caminho do Louvor, já te aviso: prepare as pernas, o coração e a alma! Mas antes de seguir com o relato, já deixo uma dica valiosa: depois de ler nossa experiência, aproveite para conferir também nosso conteúdo sobre quanto custa fazer o Caminho do Louvor. Assim você já vai com a mochila (e o orçamento) prontos!
Fazer a Peregrinação pelo Caminho do Louvor foi uma experiência que mexeu com todos os sentidos. Além da natureza exuberante de Santa Catarina, o que realmente marca são as histórias, as pessoas e as surpresas de cada quilômetro.
Aqui vai nosso relato do Caminho do Louvor, para quem sonha em fazer a rota Nova Trento – Ituporanga a pé, com muito acolhimento, fé e beleza natural pelo caminho.
Dia 1: A Inauguração do Ramal Padre Léo e o Começo da Jornada
Nossa peregrinação começou de um jeito especial: participando da inauguração do Ramal Padre Léo, um trecho novinho que agora integra o roteiro oficial do Caminho do Louvor. Saímos da Comunidade Bethânia, com uma boa dose de emoção e aquela expectativa de quem está abrindo uma nova rota.

O caminho é tranquilo na maior parte, com apenas duas subidas mais puxadas: logo no início e na chegada ao santuário. Para quem gosta de reforçar a fé e o estômago, o almoço na comunidade foi daqueles que aquecem o corpo e o coração. Arroz, feijão, frango desfiando no ponto e um suquinho caseiro que merece destaque.
Ah! Não deixe de visitar o Memorial Padre Léo. A visita foi guiada, super leve e em cerca de 30 minutos você entende a história e o legado dele. Para quem quis pode garantir o certificado da caminhada recém inaugurada, na própria comunidade.
Hospedagem na Comunidade Bethânia
Simples, mas acolhedora. Quarto com duas camas confortáveis, ventilador e banheiro privativo. O café da manhã é básico: pão, doce de banana, queijo cremoso e café com leite. Dica: se estiver em mais de um e precisar carregar o celular ou algum outro aparelho é melhor levar um powerbank, porque as tomadas são poucas.
Dia 2: Transição, Preparação e Primeiros Sabores de Nova Trento
O Dia 2 foi aquele típico dia de transição: corpo ainda descansado, mas com a mente já acelerada, tentando adivinhar o que viria pela frente na Peregrinação pelo Caminho do Louvor.
Começamos a manhã com um café simples, porém feito com carinho, na Comunidade Bethânia. Logo depois, participamos de uma missa às 10h, que foi quase um ritual de bênção para os quilômetros que nos esperavam a partir do dia seguinte.
A estrada entre Bethânia e Nova Trento nos recebeu com céu aberto e temperatura agradável. Foi uma viagem curta, mas simbólica. A cada curva, a sensação de estar realmente começando aumentava.
Na hora do almoço, fomos direto para a Cantina Italiana, famosa na cidade. O salão já estava animado, com música ao vivo misturando clássicos italianos e sucessos brasileiros. O buffet era uma festa de sabores: variedade de polentas (frita, mole, com queijo, com molho), sopas, frios, massas, carnes… E ainda um cantinho especial para sobremesas. O valor? R$ 75 o buffet livre. Um investimento justo pelo banquete.

À tarde, subimos o Morro da Cruz, onde além da vista panorâmica, visitamos o pequeno museu e já entramos no clima de espiritualidade. Fechamos o dia conhecendo os espaços do CEIC, onde iríamos nos hospedar. Aproveitamos também para visitar os santuários da cidade e enriquecer o roteiro por Nova Trento.
Fomos dormir com o coração acelerado, sabendo que no dia seguinte, os primeiros passos reais da nossa peregrinação aconteceriam.
Dia 3: Primeiros Passos na Trilha – Começa a Peregrinação de Ituporanga a Nova Trento
Acordei antes do despertador. Sabe aquela mistura de ansiedade boa com nervosismo? Era exatamente isso. Fazia tempo que eu não sentia aquela vontade quase infantil de ver o dia clarear só pra começar algo novo. Estava prestes a dar os primeiros passos da minha Peregrinação pelo Caminho do Louvor, e confesso: o friozinho na barriga era real.
Tomamos um café da manhã reforçado no CEIC, com direito a ovos fresquinhos feitos na hora e um lanche extra que já deixamos separado para o caminho (nunca subestime a fome de um peregrino).
Saímos por volta das 8h30 do Santuário de Santa Paulina, um lugar carregado de significado e espiritualidade. O céu estava meio encoberto, o ar geladinho, mas sem previsão de chuva. Ótimas condições para a primeira perna da jornada.

Logo nos primeiros quilômetros, o corpo começa a entender que o dia será longo. As pernas aquecem, a respiração se ajusta e, de repente, a ficha cai: estamos mesmo fazendo o Caminho do Louvor, peregrinação pela qual me preparei por pelo menos 2 meses e venho pensando desde outubro de 2024.
O percurso desse dia tinha cerca de 18 km até a primeira hospedagem, e cada trecho foi uma descoberta. Passamos por pequenos vilarejos, capelas à beira da estrada e trechos de mata onde o som dos passarinhos acompanhava nossos passos. Um dos pontos de parada mais usados pelos peregrinos foi a Capela Santos Mártires das Missões, excelente para um pit stop rápido – banheiro, uma água e aquele respiro antes de seguir.

Mas o trecho que realmente colocou nossa resistência à prova foi o temido Morro do Baiano. A subida é longa e inclinada, daquelas que exigem um passo de cada vez, foco no chão e respiração cadenciada. Por outro lado, a vista lá de cima… Olha, valeu cada gota de suor. Lá no alto, bancos instalados pela família Tridapalli nos convidam a sentar, respirar fundo e contemplar a paisagem da região. Uma verdadeira recompensa visual depois do esforço.
Depois da subida, uma descida forte. E foi ali que começamos a sentir os joelhos reclamando. Mesmo com bastões de caminhada, é o tipo de trecho que exige atenção redobrada.
Paramos para um lanche de improviso: frutas, castanhas e os famosos sanduíches de pão com queijo que já estavam guardados na mochila desde o café.
Já perto das 14h20, a emoção bateu forte ao avistarmos nossa primeira acolhida: a tão esperada Acolhida Águas Cristalinas, na área rural de Nova Trento. Sabe aquele lugar com cara de casa de vó? Pois é. Assim que chegamos, já fomos recebidos com um suco de limão geladinho e um sorriso largo.
O resto da tarde foi de descanso, muita conversa com os anfitriões e claro… um café da tarde daqueles: bolinho de banana, bolo de fubá, orelha de gato e pão caseiro com nata e doce de banana. Uma fartura que parecia um abraço depois de um dia puxado.
O dia terminou com um jantar caseiro: frango assado, polenta, saladas, arroz e feijão – tudo feito com aquele tempero que só cozinha de interior tem. E depois? Uma boa noite de sono para recarregar as energias. Afinal, o Caminho do Louvor ainda estava só começando.
Dia 4: Um Dia de Superação – Da Águas Cristalinas ao Ninho do Periquito
O amanhecer foi daqueles em que o corpo ainda está se adaptando à rotina de caminhada. Saímos da Acolhida Águas Cristalinas às 7h50, com o termômetro marcando pouco mais de 10 graus.

Depois do café, ainda tivemos um momento especial: plantamos uma muda de Jerivá no quintal da propriedade. Uma tradição proposta pela Talita (nossa guia) para deixar a nossa marca ali.
O dia prometia ser puxado: 25 km de estrada de terra, morros, subidas e descidas. O Morro do Reginaldo foi o primeiro desafio do dia. Uma subida longa e contínua, com cerca de 5,6 km. A cada curva, mais inclinação e mais cansaço. Mas também… mais paisagens que valiam a parada.
O caminho nos presenteou com várias capelinhas, bancos estrategicamente colocados para descanso e moradores que, mesmo de longe, davam aquele aceno simpático. A passagem pela Comercial Meyer, perto do meio-dia, foi um verdadeiro alívio: banheiro disponível e uma cuca de coco que merece entrar para o ranking das melhores que já comemos na vida, digna de estar nos melhores café coloniais de Santa Catarina.

Ainda restavam muitos quilômetros pela frente e, confesso, foi um dos dias em que mais precisei buscar força mental para seguir. Mas seguimos. As conversas entre o grupo diminuíram ao longo da tarde – a fadiga era geral.
Chegamos na Acolhida Ninho do Periquito por volta das 16h15. A recepção foi calorosa como sempre: um café da tarde farto, com direito a bolos, pães caseiros e aquele bate-papo gostoso com a anfitriã Adriana, que adora uma boa prosa.
O espaço da acolhida é simples, com alojamento em beliches, um salão comunitário amplo e uma estrutura que atende até 20 pessoas. Os sanitários separados dos chuveiros ajudam bastante na logística quando o grupo é grande.
Mas foi à noite, depois do jantar, que comecei a sentir algo fora do normal. Uma dor de cabeça chata, nariz entupido, o corpo dando sinais de que algo não estava certo. O que começou como um desconforto leve foi ganhando força. Veio a febre, a sensação de fraqueza e aquela mistura de calafrio e suor frio que a gente sabe o que significa: algo estava pegando.
Ainda tentei descansar e beber bastante água, na esperança de acordar melhor no dia seguinte. Mas, pela primeira vez na peregrinação, o corpo parecia querer dizer: “hoje você me forçou além do limite”.
Fui dormir com uma dose de preocupação, torcendo para melhorar até o amanhecer.
Dia 5: Quando o Corpo Pede Pausa – Chuva, Lama e o Primeiro Trecho de Carro de Apoio
A febre da noite anterior tinha deixado o corpo ainda mais cansado e pesado. O nariz entupido, a garganta arranhando, a cabeça latejando… parecia que eu tinha feito uma maratona durante o sono. Mesmo assim, tentei me convencer de que dava para encarar mais um dia inteiro de caminhada.
Olhando pela janela, o cenário não estava dos melhores: a chuva caía fina, mas constante. O chão já começava a mostrar sinais de que lama seria nossa companheira nas próximas horas.

Tomamos o café da manhã reforçado da Acolhida Ninho do Periquito, e enquanto o grupo fazia os últimos ajustes nas mochilas, eu ainda alimentava aquela pontinha de esperança de conseguir seguir a pé.
Partimos às 8h10. Mochila nas costas, capa de chuva no corpo e guarda-chuva na mão. Mas bastaram os primeiros cinco quilômetros para eu perceber que não tinha condição. As pernas estavam fracas, a febre não cedia e o simples ato de respirar parecia exigir um esforço desproporcional.
Foi então que, com aquele misto de frustração e alívio, decidi entrar no carro de apoio. O sentimento de “estou falhando” apareceu forte, mas logo foi substituído pela consciência de que forçar mais poderia me derrubar de vez. E eu ainda queria terminar o Caminho do Louvor, nem que fosse de forma parcial naquele dia.

Enquanto o grupo seguia enfrentando a chuva, o barro e as subidas escorregadias, eu tentava repousar no banco do carro. O trecho de 10 km foi todo feito de dentro do veículo, com aquela mistura de torpor febril e vontade de estar lá fora caminhando junto.
Na altura dos últimos 3 km, o remédio que tinha tomado começou a fazer algum efeito. Então decidi descer do carro e caminhar com o grupo até o destino final do dia.
O percurso teve suas belezas, claro. Passamos pela Gruta Nossa Senhora Aparecida, com sua pequena cascata ao lado. Nosso lanche do dia foram: frios, frutas e algumas guloseimas que ajudaram a dar aquela recarga de energia.
Por volta das 14h30, chegamos à Acolhida Pousada das Marias, em Vidal Ramos. Um lugar simples, mas com um calor humano que não dá pra descrever.

O jantar foi farto, com duas opções de carne e aquele jeitão de comida feita com afeto. Depois de comer um pouco, fui direto descansar. Sabia que o corpo ainda precisava de mais tempo para se recuperar. E, no fundo, já estava mentalmente me preparando para o desafio do Dia 6, torcendo para que a febre não voltasse com força total.
Dia 6: Um Dia Curto, Mas Gelado – O Desafio do Morro do Macuco e o Retorno da Energia
A noite de descanso na Acolhida das Marias fez seu efeito. A febre baixou, a dor de cabeça cedeu e, mesmo ainda me sentindo fraca, já amanheci com uma disposição bem diferente do dia anterior.

Antes mesmo de sair da cama, fui direto pro meu arsenal de roupas de frio. A previsão não mentiu: o amanhecer estava gelado, com ventos cortantes que pareciam atravessar todas as camadas de roupa.
Saímos por volta das 8h20, prontos para encarar os 11 km do dia. O trecho era curto, mas cheio de particularidades. Logo de cara, o Morro do Macuco apareceu como primeiro desafio. A subida é intensa e constante. Em um cenário de temperaturas baixas e vento forte, cada passo exigia esforço extra.
Com o corpo ainda se recuperando, adotei um ritmo mais lento. Me concentrei na respiração, mantive o pescoço e a cabeça bem protegidos (gola alta, gorro e até uma segunda camada de blusa). O foco do dia era um só: não deixar a imunidade cair de novo.
Sem pontos de banheiro no caminho, todo mundo precisou segurar a onda até a próxima parada. Mas a grande recompensa veio depois da descida: o Bar e Lanchonete do Joel, ali tinha carimbo para a nossa credencial de peregrino e também um famoso pão com bolinho para quem quis.
Pela primeira vez desde o início da peregrinação, conseguimos fazer um almoço de verdade: fomos até a Pizzaria Hot, que oferece buffet livre por R$ 35. Foi o combustível que faltava para seguir.
Antes de finalizar o dia, ainda visitamos as duas Igrejas de São Sebastião – a nova e a velha. A mais antiga, infelizmente, desativada e funcionando apenas como cemitério, mas com uma arquitetura que vale a visita.

Ainda passamos na Tante Mila, uma parada clássica pra quem ama bolachas artesanais. Por lá experimentamos os biscoitos, além de um suco de beterraba com banana e maçã que deu um gás extra.
A nossa hospedagem da noite foi a Pousada Doce Lar, em Vidal Ramos. Mesmo sendo uma pousada tradicional, a proprietária entendeu o espírito de peregrinação e preparou um jantar especial: uma sopa quentinha, perfeita para aquela noite fria. O café da manhã, simples mas eficiente, fechou essa hospedagem com chave de ouro.
Dia 7: Subidas Infinitas, Encontro com o Poeira e a Força da Superação

A manhã do sétimo dia chegou com o céu carregado de nuvens e aquele vento gelado típico de região serrana. Saímos por volta das 7h50, prontos para encarar 20 km, sabendo que o trecho seria desafiador, com a longa subida no Morro da Usina para Santa Luzia.
Logo no início, a inclinação começou. Foram 8 km de subida ininterrupta. Passo a passo, metro a metro, parecia que a ladeira nunca ia terminar. O frio ajudava a não superaquecer, mas as pernas… essas reclamaram a cada inclinação.
No meio da caminhada, um novo companheiro inesperado: o Poeira, um cachorro simpático que decidiu se juntar ao grupo por alguns quilômetros. Sempre à frente, sempre animado, parecia dar forças extras pra quem já estava quase no limite.
A Gruta Nossa Senhora Aparecida, que fica a poucos metros da trilha, infelizmente estava fechada devido ao falecimento do proprietário. Seguimos até a propriedade do Sr. Gentil, onde fomos recebidos com um sorriso e, claro, acesso ao banheiro – algo sempre muito bem-vindo em dias de caminhada longa.
Depois veio o Morro da Usina, o trecho difícil do dia, com subidas constantes. Para quem está peregrinando por conta própria, minha dica é clara: divida o percurso, não tente fazer direto de Vidal Ramos até a Beija-Flor. É castigo demais para um único dia.

A chegada na Acolhida Beija-Flor, por volta das 14h30, foi um alívio. O frio lá parecia ter um grau a mais. Usamos todas as roupas disponíveis na mochila.
A casa do seu Pedro e da Vanderleia é simples e precisa de algumas melhorias, principalmente na limpeza e nos chuveiros, mas o carinho com que fomos recebidos compensou qualquer detalhe estrutural. Até os netos deles foram nos buscar na estrada. E isso… não tem preço.
Dia 8: O Grande Final – Cerração, Frio e Emoção na Chegada a Ituporanga
Último dia de caminhada. Saímos da Acolhida Beija-Flor às 8h20 com um céu coberto de cerração densa. O frio era de cortar, mas a animação de saber que estávamos perto do final fazia o coração bater mais forte.

Foram 20 km relativamente planos, mas a essa altura, o desafio era outro: o desgaste acumulado do outros dias de peregrinação. Cada passo parecia carregar o peso de todos os anteriores.
O trecho, apesar de bonito, tem um problema logístico: não há banheiros públicos ou pontos de apoio estruturados. Por isso, a estratégia foi contar com a boa vontade de moradores locais e, em alguns casos, com o velho plano B – o matinho.
Logo nos primeiros quilômetros, passamos pela Capela Mãe Peregrina, a 500 metros da saída. Uma última oportunidade de reflexão antes da reta final.

Aos poucos, o sol foi vencendo a cerração e a temperatura ficou mais amena. Mas a emoção foi crescendo a cada metro. A aproximação de Ituporanga era visível, o som da cidade começava a aparecer ao longe.
Às 14h30, atravessamos o portal do Santuário, dentro do Complexo do Louvor. Um misto de alívio, gratidão e… sim, uma vontade inesperada de já começar a planejar a próxima peregrinação.

Fechamos o dia com um almoço no Restaurante do Complexo, com buffet livre a R$ 40, e à noite nos demos ao luxo de jantar no Ricardo Sushi, porque, vamos combinar… depois de tantos dias sem almoço, a gente merecia.
Nossa última noite foi no Hotel Clasen, com direito a cama confortável e aquele sono profundo de quem sabe que fez algo grande e muito fora da zona de conforto.
Pronto para viver essa jornada?
Se esse relato te inspirou, que tal conferir nosso guia de custos da peregrinação para começar a planejar o seu Caminho do Louvor? E se quiser ver tudo em vídeo, dá uma olhada no nosso documentário sobre a experiência.
Contatos Úteis para Quem Quer Fazer o Caminho do Louvor
- Associação do Caminho do Louvor: https://www.caminhodolouvor.org.br | (47) 9250-4495
- Ricardo: @irmaosnocaminho | (47) 99746-5495
- Cau: @cau.casemiro | (47) 9641-8000
Confere no mapa todos os pontos de parada importantes, hospedagens e acolhidas, além de restaurantes e pontos de alimentação, caso você decida também embarcar nessa jornada.
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